Um relato pelo
Dr. Barbet (médico francês) dos sofrimentos de Jesus:
NO GETSÊMANI (Lucas 22.44)
Jesus entrou
em agonia no Getsêmani e o seu suor tornou-se em gotas de sangue a escorrer
pela terra. O único evangelista que relato o facto é um médico, Lucas. E faz
isso com a decisão de um clínico. O suar sangue, ou "hematidrose", é
um fenômeno raríssimo. É produzido em condições excepcionais: para provocá-lo é
necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento
causado por uma profunda emoção, por um grande medo.
O terror, o
susto, a angústia terrível de sentir que carregava todos os pecados dos homens
devem ter esmagado Jesus. Tal tensão extrema produz o rompimento das finíssimas
veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue mistura-se com
o suor e concentra-se sobre a pele e então escorre por todo o corpo até a
terra.
A FLAGELAÇÃO E A COROA DE
ESPINHOS (Lucas 23.1-25, João 19.1-17)
Conhecemos a
farsa do processo preparado pelo Sinédrio hebraico, o envio de Jesus a Pilatos
e o desempate entre o procurador romanos e Herodes. Pilatos cede e então ordena
a flagelação de Jesus. Os soldados despojam Jesus e prendem-no pelos pulsos a
uma coluna do pátio.
A flagelação efectua-se
com tiras de couro múltiplas sobre as quais são fixadas bolinhas de chumbo e de
pequenos ossos. Os carrascos devem ter sido dois, um de cada lado e de diferentes
estaturas. Golpeiam com chibatadas a pele, já alterada por milhões de
microscópicas hemorragias do suor de sangue. A pele dilacera-se e rompe-se; o
sangue espirra. A cada golpe Jesus reage num sobressalto de dor. As forças esvaem-se;
um suor frio impregna-lhe a fronte, a cabeça gira numa vertigem de náusea,
calafrios correm ao longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos
pulsos, cairia numa poça de sangue.
Depois, o
escárnio da coroação. Com longos espinhos, mais duros que os de acácia, os
algozes entrelaçam uma espécie de capacete e aplicam-lho sobre a cabeça. Os
espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem o
quanto sangra o couro cabeludo).
A CAMINHADA ATÉ O CALVÁRIO
(Lucas 23.26-32)
Pilatos,
depois de ter mostrado aquele homem dilacerado á multidão feroz, entrega-o para
ser crucificado.
Colocam sobre
os ombros de Jesus o grande braço horizontal da cruz; pesa uns 50 quilos. A
estaca vertical já está colocada sobre o Calvário. Jesus caminha com os pés descalços
pelas ruas de terreno irregular, cheias de pedregulhos. Os soldados puxam-no
com as cordas. O percurso é de cerca de 600 metros. Jesus, fatigado, arrasta um
pé após o outro, frequentemente cai sobre os joelhos. E os ombros de Jesus
estão cobertos de chagas. Quando ele cai por terra, a viga escapa-se-lhe,
escorrega e esfola-lhe o dorso.
Finalmente,
para ganhar tempo, os soldados escolhem um homem na multidão, Simão, que vinha
do campo, e colocam-lhe a estaca sobre suas costas, para que a levasse após Jesus.
A CRUCIFICAÇÃO (Lucas 23.33-49,
João 19.18-37)
Sobre o
Calvário tem início a crucificação. Os carrascos despojam o condenado, mas a sua
túnica está colada nas chagas e tirá-la produz dor atroz. Quem já tirou uma
atadura de gaze de uma grande ferida percebe do que se trata. Cada fio de
tecido adere á carne viva; ao levarem a túnica laceram as terminações nervosas
postas em descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento. Há um
risco de toda aquela dor provocar uma síncope, mas ainda não é o fim. O sangue
começa a escorrer.
Jesus é
deitado de costas, as suas chagas incrustam-se de pó e pedregulhos.
Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz. Os algozes tomam as medidas. Com
uma broca, é feito um furo na madeira para facilitar a penetração dos pregos.
Os carrascos pegam um prego (um longo prego pontudo e quadrado), apoiam-no
sobre o pulso de Jesus, com um golpe certeiro de martelo furam-no e rebatem-no
sobre a madeira. Jesus deve ter contraído o rosto assustadoramente. O nervo
mediano foi lesado. Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor
lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos
ombros, atingindo o cérebro.
A dor mais
insuportável que um homem pode provar, ou seja, aquela produzida pela lesão dos
grandes troncos nervosos: provoca uma síncope e faz perder a consciência. Em
Jesus não. O nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece
em contacto com o prego: quando o corpo for suspenso na cruz, o nervo vai
esticar fortemente como uma corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada
solavanco, a cada movimento, vibrará despertando dores dilacerantes. Um
suplício que durará horas.
O carrasco e
o seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam Jesus, colocam-no
primeiro sentado e depois em pé; consequentemente fazendo-o tombar para trás, encostam-no
na estaca vertical. Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da cruz
sobre a estaca vertical.
Os ombros da
vítima esfregam dolorosamente sobre a madeira áspera. As pontas cortantes da
grande coroa de espinhos penetram o crânio. A cabeça de Jesus inclina-se para
frente, uma vez que o diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na madeira. Cada
vez que o mártir levanta a cabeça, recomeçam as pontadas agudas de dor.
Pregam-lhe os
pés.
AS HORAS NA CRUZ
Jesus tem
sede. Não bebeu desde a tarde anterior. O seu corpo é uma máscara de sangue. A
boca está semiaberta e o lábio inferior começa a pender. A garganta, seca, queima-o,
mas ele não pode engolir. Tem sede. Um soldado estende sobre a ponta de uma
vara uma esponja embebida em bebida ácida em uso entre os militares. Tudo
aquilo é uma tortura atroz.
Um estranho fenómeno
se produz no corpo de Jesus. Os músculos dos braços se enrijecem em uma contracção
que vai se acentuado: os deltóides, os bíceps esticados e levantados, os dedos
encurvam-se. É como acontece a alguém ferido de tétano. A isto os médicos
chamam tetania, quando os sintomas se generalizam: os músculos do abdómen enrijecem
em ondas imóveis; em seguida aqueles entre as costelas, os do pescoço e os
respiratórios.
A respiração faz-se,
pouco a pouco, mais curta. O ar entra com um sibilo, mas não consegue sair.
Jesus respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em
plena crise, o seu rosto pálido pouco a pouco torna-se vermelho, depois
transforma-se num violeta purpúreo e enfim em cianítico. Jesus é envolvido pela
asfixia. Os pulmões cheios de ar não podem mais esvaziar-se. A fronte está
impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita.
Mas o que
acontece? Lentamente, com um esforço sobre-humano, Jesus toma um ponto de apoio
sobre o prego dos pés. Esforça-se a pequenos golpes, eleva-se aliviando a
tração dos braços. Os músculos do tórax distendem-se. A respiração torna-se
mais ampla e profunda, os pulmões esvaziam-se e o rosto recupera a palidez
inicial. Porquê este esforço? Porque Jesus quer falar: "Pai, perdoa-lhes
porque não sabem o que fazem". Logo de seguida o corpo começa a afrouxar
de novo e a asfixia recomeça.
Foram
transmitidas sete frases pronunciadas por Ele na cruz: cada vez que quer falar,
devera elevar-se tendo como apoio o prego dos pés. Que tortura!
Atraídas pelo
sangue que escorre e pelo coagulado, enxames de moscas zunem ao redor do seu
corpo, mas Ele não pode enxotá-las. Pouco depois, o céu escurece, o sol se
esconde: de repente a temperatura diminui. Logo serão três da tarde. Todas as
suas dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, arrancam-lhe
um lamento: "Deus meu, Deus meu, porque me abandonastes?". Jesus dá
seu último suspiro: "Está tudo consumado!", e em seguida, "Pai,
nas tuas mãos entrego o meu espírito". E morre. Em meu lugar e no teu.
Fonte: http://www.ebdonline.com.br/