É pela graça que estão salvos, mediante a fé. E isto não é mérito vosso, é dom de Deus.
(Efésios 2:8)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Que graça defendemos nós?

Texto retirado do livro «El precio de la Gracia» de Dietrich Bonhoeffer (pastor e teólogo alemão)

“A graça "barata" é o inimigo mortal da nossa Igreja. Hoje, nós lutamos pela graça cara.

A graça barata é a graça que é considerada como uma mercadoria, é o perdão que é desperdiçado, o consolo que é desperdiçado, o sacramento que é desperdiçado, é a graça como armazém inesgotável da Igreja, de onde a colhem mãos imprudentes para a distribuir sem hesitação nem limites; é a graça sem preço, que não custa nada. Porque se diz que, de acordo com a natureza da graça, a factura foi paga antecipadamente para sempre. Graças a essa factura já ter sido paga podemos ter tudo de forma gratuita. As despesas cobertas são infinitamente grandes e, portanto, as possibilidades de utilização e de desperdício são igualmente infinitamente grandes. Além disso, o que seria uma graça que não fosse graça barata?

A graça barata é a graça como doutrina, como princípio, como sistema, é considerar o perdão dos pecados como uma verdade universal, é o amor de Deus interpretado como uma «ideia» cristã de Deus. Quem afirma essa graça possui já o perdão dos seus pecados. A Igreja que defende essa doutrina participa já dessa graça devido à sua própria doutrina. Nessa Igreja, o mundo encontra um véu barato que serve para encobrir os seus pecados, dos quais não se arrepende e dos quais não deseja libertar-se. Por isso, a graça barata é a negação da palavra viva de Deus, é a negação da encarnação do Verbo de Deus.

A graça barata é a justificação do pecado e não do pecador. Uma vez que a graça faz tudo por si própria, as coisas devem permanecer como antes. «Todas as nossas obras são em vão». O mundo continua a ser mundo e nós continuamos a ser pecadores «mesmo quando vivemos uma vida melhor». Que o cristão viva como o mundo, que se assemelhe em tudo a ele e que não procure (sob pena de cair na heresia do iluminismo), levar uma vida diferente debaixo da graça da vida que leva quando vive debaixo do pecado. Que se guarde de se enfurecer contra a graça, de se burlar da graça imensa, barata, e de reintroduzir a escravatura à letra tentando viver em obediência aos mandamentos de Jesus Cristo. O mundo está justificado pela graça, por isso, por causa da seriedade dessa graça, para não colocar resistência a esta graça insubstituível, o cristão deve viver como o resto do mundo.

O cristão gostaria de fazer algo de extraordinário; não o fazer, mas ver-se obrigado a viver mundanamente é a renúncia mais dolorosa. Contudo, tem de levar a cabo esta renúncia, negar-se a si mesmo, não se distinguir do mundo no seu modo de vida. Deve deixar que a graça seja realmente graça, afim de não destruir a fé que tem o mundo nesta graça barata. Mas na sua mundanidade, nessa renúncia necessária que deve aceitar por amor ao mundo, ou melhor, por amor à graça, o cristão deve estar tranquilo e seguro na possessão dessa graça que faz tudo por si própria. O cristão não tem de seguir a Jesus, basta consolar-se com essa graça. Essa é a graça barata como justificação do pecado, mas não do pecador arrependido, do pecador que abandona o seu pecado e se converte; não é o perdão dos pecados o que nos separa do pecado. A graça barata é a graça que temos por nós próprios.

A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, do baptismo sem disciplina eclesiástica, da comunhão sem confissão dos pecados, da absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem seguir Cristo, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo, vivo e encarnado.

A graça cara é o tesouro escondido no campo, por amor do qual o homem vai e vende tudo o que tem, com alegria; é a pérola preciosa, pela qual o comerciante dá todos os seus bens; o senhorio de Cristo, pelo qual o homem arranca o olho que escandaliza; o chamamento de Jesus Cristo, que leva o discípulo a deixar as suas redes e segui-lo.

A graça cara é o Evangelho, que se deve sempre procurar de novo. É cara porque nos chama a seguir, é graça porque chama a seguir Jesus Cristo; é cara porque o homem a adquire com o preço da própria vida, é graça porque lhe doa a vida; é cara porque condena o pecado, é graça porque justifica o pecador. Sobretudo, a graça é cara porque custou muito a Deus; porque custou a Deus a vida do próprio Filho, «fostes adquiridos por um grande preço», e porque o que foi caro para Deus não pode ser barato para nós. É graça, sobretudo, porque Deus não considerou muito caro o seu Filho para resgatar a nossa vida, mas entregou-o por nós. Graça cara é a encarnação de Deus.

A graça cara é a graça como um santuário de Deus que há que proteger do mundo, que não pode ser entregue aos cães; portanto, é a graça como palavra viva, a palavra de Deus que ele mesmo pronuncia quando mais lhe agrada. Esta palavra vem até nós na forma de uma chamada misericordiosa de seguir Jesus, apresenta-se ao espírito angustiado e ao coração abatido como uma palavra de perdão. A graça é cara porque obriga o homem a submeter-se ao jugo de seguir Jesus Cristo, mas é uma graça que Jesus diga: «O meu jugo é suave e o meu fardo é leve».”

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Relato da Crucifixão de Jesus


Um relato pelo Dr. Barbet (médico francês) dos sofrimentos de Jesus:

NO GETSÊMANI (Lucas 22.44)

Jesus entrou em agonia no Getsêmani e o seu suor tornou-se em gotas de sangue a escorrer pela terra. O único evangelista que relato o facto é um médico, Lucas. E faz isso com a decisão de um clínico. O suar sangue, ou "hematidrose", é um fenômeno raríssimo. É produzido em condições excepcionais: para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo.

O terror, o susto, a angústia terrível de sentir que carregava todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus. Tal tensão extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue mistura-se com o suor e concentra-se sobre a pele e então escorre por todo o corpo até a terra.

A FLAGELAÇÃO E A COROA DE ESPINHOS (Lucas 23.1-25, João 19.1-17)

Conhecemos a farsa do processo preparado pelo Sinédrio hebraico, o envio de Jesus a Pilatos e o desempate entre o procurador romanos e Herodes. Pilatos cede e então ordena a flagelação de Jesus. Os soldados despojam Jesus e prendem-no pelos pulsos a uma coluna do pátio.

A flagelação efectua-se com tiras de couro múltiplas sobre as quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos. Os carrascos devem ter sido dois, um de cada lado e de diferentes estaturas. Golpeiam com chibatadas a pele, já alterada por milhões de microscópicas hemorragias do suor de sangue. A pele dilacera-se e rompe-se; o sangue espirra. A cada golpe Jesus reage num sobressalto de dor. As forças esvaem-se; um suor frio impregna-lhe a fronte, a cabeça gira numa vertigem de náusea, calafrios correm ao longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia numa poça de sangue.

Depois, o escárnio da coroação. Com longos espinhos, mais duros que os de acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de capacete e aplicam-lho sobre a cabeça. Os espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem o quanto sangra o couro cabeludo).

A CAMINHADA ATÉ O CALVÁRIO (Lucas 23.26-32)

Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado á multidão feroz, entrega-o para ser crucificado.

Colocam sobre os ombros de Jesus o grande braço horizontal da cruz; pesa uns 50 quilos. A estaca vertical já está colocada sobre o Calvário. Jesus caminha com os pés descalços pelas ruas de terreno irregular, cheias de pedregulhos. Os soldados puxam-no com as cordas. O percurso é de cerca de 600 metros. Jesus, fatigado, arrasta um pé após o outro, frequentemente cai sobre os joelhos. E os ombros de Jesus estão cobertos de chagas. Quando ele cai por terra, a viga escapa-se-lhe, escorrega e esfola-lhe o dorso.

Finalmente, para ganhar tempo, os soldados escolhem um homem na multidão, Simão, que vinha do campo, e colocam-lhe a estaca sobre suas costas, para que a levasse após Jesus.

A CRUCIFICAÇÃO (Lucas 23.33-49, João 19.18-37)

Sobre o Calvário tem início a crucificação. Os carrascos despojam o condenado, mas a sua túnica está colada nas chagas e tirá-la produz dor atroz. Quem já tirou uma atadura de gaze de uma grande ferida percebe do que se trata. Cada fio de tecido adere á carne viva; ao levarem a túnica laceram as terminações nervosas postas em descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento. Há um risco de toda aquela dor provocar uma síncope, mas ainda não é o fim. O sangue começa a escorrer.

Jesus é deitado de costas, as suas chagas incrustam-se de pó e pedregulhos. Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz. Os algozes tomam as medidas. Com uma broca, é feito um furo na madeira para facilitar a penetração dos pregos. Os carrascos pegam um prego (um longo prego pontudo e quadrado), apoiam-no sobre o pulso de Jesus, com um golpe certeiro de martelo furam-no e rebatem-no sobre a madeira. Jesus deve ter contraído o rosto assustadoramente. O nervo mediano foi lesado. Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos ombros, atingindo o cérebro.

A dor mais insuportável que um homem pode provar, ou seja, aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos: provoca uma síncope e faz perder a consciência. Em Jesus não. O nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece em contacto com o prego: quando o corpo for suspenso na cruz, o nervo vai esticar fortemente como uma corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada movimento, vibrará despertando dores dilacerantes. Um suplício que durará horas.

O carrasco e o seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam Jesus, colocam-no primeiro sentado e depois em pé; consequentemente fazendo-o tombar para trás, encostam-no na estaca vertical. Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da cruz sobre a estaca vertical.

Os ombros da vítima esfregam dolorosamente sobre a madeira áspera. As pontas cortantes da grande coroa de espinhos penetram o crânio. A cabeça de Jesus inclina-se para frente, uma vez que o diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na madeira. Cada vez que o mártir levanta a cabeça, recomeçam as pontadas agudas de dor.

Pregam-lhe os pés.

AS HORAS NA CRUZ

Jesus tem sede. Não bebeu desde a tarde anterior. O seu corpo é uma máscara de sangue. A boca está semiaberta e o lábio inferior começa a pender. A garganta, seca, queima-o, mas ele não pode engolir. Tem sede. Um soldado estende sobre a ponta de uma vara uma esponja embebida em bebida ácida em uso entre os militares. Tudo aquilo é uma tortura atroz.

Um estranho fenómeno se produz no corpo de Jesus. Os músculos dos braços se enrijecem em uma contracção que vai se acentuado: os deltóides, os bíceps esticados e levantados, os dedos encurvam-se. É como acontece a alguém ferido de tétano. A isto os médicos chamam tetania, quando os sintomas se generalizam: os músculos do abdómen enrijecem em ondas imóveis; em seguida aqueles entre as costelas, os do pescoço e os respiratórios.

A respiração faz-se, pouco a pouco, mais curta. O ar entra com um sibilo, mas não consegue sair. Jesus respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena crise, o seu rosto pálido pouco a pouco torna-se vermelho, depois transforma-se num violeta purpúreo e enfim em cianítico. Jesus é envolvido pela asfixia. Os pulmões cheios de ar não podem mais esvaziar-se. A fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita.

Mas o que acontece? Lentamente, com um esforço sobre-humano, Jesus toma um ponto de apoio sobre o prego dos pés. Esforça-se a pequenos golpes, eleva-se aliviando a tração dos braços. Os músculos do tórax distendem-se. A respiração torna-se mais ampla e profunda, os pulmões esvaziam-se e o rosto recupera a palidez inicial. Porquê este esforço? Porque Jesus quer falar: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem". Logo de seguida o corpo começa a afrouxar de novo e a asfixia recomeça.

Foram transmitidas sete frases pronunciadas por Ele na cruz: cada vez que quer falar, devera elevar-se tendo como apoio o prego dos pés. Que tortura!

Atraídas pelo sangue que escorre e pelo coagulado, enxames de moscas zunem ao redor do seu corpo, mas Ele não pode enxotá-las. Pouco depois, o céu escurece, o sol se esconde: de repente a temperatura diminui. Logo serão três da tarde. Todas as suas dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, arrancam-lhe um lamento: "Deus meu, Deus meu, porque me abandonastes?". Jesus dá seu último suspiro: "Está tudo consumado!", e em seguida, "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". E morre. Em meu lugar e no teu.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

quinta-feira, 6 de setembro de 2012